Resultado de uma residência artística em formato inédito no Brasil, a exposição Lab Cinema Expandido – Rio de Janeiro: Fantasmas, Máscaras e Territórios ocupa todos os andares do Futuros – Arte e Tecnologia, no Flamengo, de 10 de julho até 1º de setembro. A mostra apresenta videoinstalações sobre o Rio de Janeiro criadas por nove duplas de artistas e pelos cineastas Cao Guimarães e Paz Encina durante o LAB Cinema Expandido, uma residência de formação artística sobre a relação do cinema com outras linguagens, que ocorreu entre junho e setembro de 2023, na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O projeto é coordenado pela cineasta, produtora e artista visual Marina Meliande e pelo cineasta e roteirista Felipe M. Bragança. No dia da abertura, 10/07 (quarta), às 18h30, será realizada uma visita guiada com Cao Guimarães e Paz Encina.
A exposição começa no videowall do térreo, com Tokkotai Paquetá, de Cao Guimarães, que assina a direção, roteiro, fotografia e montagem. A obra foi filmada na ilha de Paquetá e a trilha sonora é do grupo O Grivo. Já no último andar, está instalada a obra Carta a un viejo Master, da cineasta paraguaia Paz Encina, uma homenagem a Eduardo Coutinho, filmada no Edifício Master, icônico prédio de Copacabana. A montagem do vídeo é de Jordana Berg, editora dos filmes de Coutinho e dos últimos trabalhos de Paz.
Nos outros andares do centro cultural, o visitante encontra as nove videoinstalações das duplas de artistas exibidas em diversos suportes e ambientes, contando, algumas delas, com objetos de cena. O Rio de Janeiro é o personagem comum de todas as obras, retratado em diversas regiões como a Vila Vintém, Floresta da Tijuca, Ilha do Sol (Baía de Guanabara), Maracanã, Baixada Fluminense, Central do Brasil, Copacabana, Paquetá ou em detalhes sutis como o vento que corta a cidade. Ficções e documentários exploram personagens, locais e histórias do imaginário carioca.
“O tema Fantasmas, Máscaras e Territórios foi proposto para se pensar nas transformações aceleradas dos espaços urbanos brasileiros, em especial a cidade do Rio de Janeiro. Na forma como a cidade, como um corpo vivo, vai reconfigurando seus territórios, assumindo novas identidades, máscaras, que se expressam como novos corpos, novas latitudes, novas representações, e deixam para trás os fantasmas de suas memórias. Falar em fantasmas, máscaras e territórios no Rio de janeiro de hoje é falar daquilo que a cidade tenta esquecer, daquilo que ela é, e daquilo que ela deseja ser. Esse é o conceito por trás da Residência”, resume Mariana Meliande, idealizadora do LAB.
“Por meio de suas obras, o LAB Cinema Expandido traz uma proposta de reflexão sobre a nossa cidade. Acreditamos que o cinema é uma das principais ferramentas de geração de conhecimento e aprendizado, e ter no Futuros – Arte e Tecnologia uma exposição com obras e filmes que exploram as nuances e maravilhas do Rio tem tudo a ver com a gente”, comemora Victor D’Almeida, gerente de cultura do Instituto Oi Futuro.
No dia da abertura para convidados, 9 de julho, às 21h, os artistas Anne Santos e João L. Lourenço, diretores de Bacia dos Sonhos, farão uma performance durante a exibição do filme, que será gravada e somará camadas sonoras à obra. Esta nova versão da obra é a que será projetada durante o período da exposição.
Serão realizadas ainda mais três visitas guiadas, aos sábados, às 16h: dias 13/07 e 20/07, com as duplas de artistas que criaram as nove vídeo-instalações; e, no dia 03/08, com os curadores Felipe M. Bragança e Marina Meliande.
AS OBRAS
Artistas Convidados
Carta a un viejo Master, de Paz Encina (70 min)
A premiada cineasta paraguaia Paz Encina rende homenagem ao mestre Eduardo Coutinho, que registrou vidas diversas no documentário “Edifício Master”, há 20 anos. Paz busca vestígios da presença ainda forte do cineasta no cenário/objeto de seu filme, em Copacabana, costurando uma carta afetuosa a partir do encontro com esse espaço e seus atuais moradores. A montagem é de Jordana Berg, que trabalhou em diversos filmes de Coutinho.
Tokkotai Paquetá, de Cao Guimarães (27 min)
Em um momento suspenso no tempo, notícias da guerra da Ucrânia são recebidas na Ilha de Paquetá. Uma obra de observação do cineasta Cao Guimarães, atento aos fluxos, imprevistos e encontros nessa ilha localizada no meio da Baía de Guanabara.
Artistas Residentes
A Primeira Última Estação, de Marcos Vinicios de Souza e Jay Preto (14 min)
Entre o mar e o mangue da Central, Guemes Xiao observa a sociedade carioca máquina que não o vê. O consumo acelerado, a velocidade do pouco afeto, o estranhamento do outro. Em uma cidade ao mesmo tempo real e delirada, universal mesmo, quem sabe, é o desentendimento pro encontro sagrado. O trem nunca chega.
Animais Noturnos, de Indigo Braga e Paulo Abrão (11 min)
Sobre o Rio de Janeiro paira a monstruosa sombra de Mutante, uma gigante gostosa, que com seus mais de 100 metros vive provocando o mundo abaixo. Em suas bisbilhotadas de janela conhece Mulher, uma artesã que transformará o seu mundo.
Bacia dos Sonhos, de Anne Santos e João L. Lourenço (29 min)
A partir de um sonho, sonoplasta percorre distintas regiões do Rio de Janeiro e Baixada Fluminense em busca das particularidades sonoras que caracterizam cada espaço. Nesse movimento, onde o onírico e o real borram e friccionam seus limites, a personagem flana por lugares afetivos ao captar diferentes sonoridades.
FUGA, de viniciux da silva e Raphael Medeiros (15 min)
Estamos aqui no tempo, aqui na singularidade, onde dois corpos habitam um entre-lugar marcado pela dilatação do tempo. Inspirado pelo pensamento negro radical, FUGA é um experimento sobre o movimento errático da fuga e sua impossibilidade.
Ilha do Sol, de Dani Moreira e Carolina Medeiros
(26 min)
A Ilha do Sol tornou-se conhecida em meados do século XX, por ser o local sede do Clube Naturalista Brasileiro, fundado por Luz Del Fuego (nome artístico de Dora Vivacqua), artista circense, bailarina, vedete do teatro de revista, protofeminista e pioneira da arte performática feminina no Brasil. Ela viveu lá de 1951 até seu feminicídio, em julho de 1967. Ilha do Sol é um híbrido de ensaio poético e deriva cinematográfica, que convida a memória fantasmática de Luz Del Fuego a vagar pelo território que foi sua antiga morada.
Mandinga de Gorila, de Luzé e Juliana Gonçalves (21 min)
Na favela da Vila Vintém existe uma entidade, não comentada, ainda muito presente na história dos antigos moradores – o Gorila de Saco, que era símbolo de poder para aqueles que queriam curtir o carnaval, mas não tinham dinheiro para participar dos grupos de Clóvis O filme evoca a potência manifesta do Gorila de Saco nas travessas e becos onde ele ficou marcado pela violência daqueles que vestiram essa fantasia, para reencantar essa entidade junto de quem, pouco a pouco, movimenta o seu retorno não-criminoso dentro do carnaval de rua da Vila Vintém – ainda que seja um desafio lidar com a proibição do uso de máscaras.
N.V.L.H, de Felipe Dutra e Thaís Iroko (9 min)
Todas as noites, nas encruzilhadas do rio de janeiro, uma entidade/malandra se reencanta. Cortando ruas, o tempo e o som. NVLH é uma reinvenção alegórica da presença feminina que é espírito produto da cidade, que protege seus segredos e seus habitantes através das energias caóticas e rodopiantes dos ritmos da vida urbana.
TERRAL, de Ana Costa Ribeiro e Tatiana Devos Gentile (16 min)
Terral é um vento suave, uma brisa terrestre, quase imperceptível. No Rio de Janeiro, ele vem da Zona Norte e da Zona Oeste, em direção ao mar, durante a noite e nas primeiras horas do dia. No sentido do vento, atravessamos o espaço, em movimento contínuo. Uma coreografia com as paisagens visuais e sonoras pelas quais percorre o vento terral em nossa cidade.
Uma Floresta, de Renata Catharino e Rafael Zacca (29 min)
Uma neta encontra os arquivos do avô na Floresta da Tijuca e se depara com fotografias e filmes comidos pelo tempo. Os arquivos, cheios de mofo e poeira, se misturam às ruínas da floresta. A busca pela memória do avô traz à tona a história do lugar: a presença indígena e dos espíritos, a colonização e o desmatamento, o reflorestamento.
O PROJETO LAB CINEMA EXPANDIDO
O LAB Cinema Expandido é uma residência de formação artística que propõe uma interlocução entre o cinema e outras linguagens. A sua primeira edição ocorreu na Cinemateca do MAM, entre junho e setembro de 2023 e se propôs a discutir e atualizar um imaginário para a cidade do Rio de Janeiro. Foram realizadas sessões de cinema, debates, masterclass e encontros abertos ao público em geral, com entrada gratuita, e uma residência para nove duplas de artistas (uma pessoa ligada diretamente ao cinema mais uma pessoa de outra área artística, nascidas ou moradoras do estado do Rio de Janeiro), selecionadas através de uma convocatória aberta.
Inspirado em residências de cinema internacionais, o LAB Cinema Expandido se baseia na realização de vídeo-instalações que transitam entre o Cinema e as Artes Visuais, configurando-se como um local de produção, experimentação e difusão pouco explorado no Brasil. Os artistas convidados Cao Guimarães e Paz Encina orientaram, junto com a equipe do projeto, as nove duplas. No total foram realizadas 11 obras com recursos do LAB – nove das duplas, uma de Cao e outra de Paz.
O LAB tem patrocínio do FSA/BRDE/Ancine e Ministério da Cultura, através do Edital de Formação SAV/MINC/FSA nº 13, e apoio Cinemateca do MAM Rio, Samambaia.org, Projeto Paradiso Multiplica, Selina e Hocus Pocus. A realização é da produtora Duas Mariola Filmes.
A exposição Lab Cinema Expandido – Rio de Janeiro: Máscaras, Fantasmas e Territórios é uma realização da Duas Mariola Filmes, do Lab Cinema Expandido, do Governo Federal, do Ministério da Cultura, do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Lei Paulo Gustavo; e correalização do Futuros – Arte e Tecnologia, Gestor Oi Futuro. Mais informações sobre o Lab: www.labcinemaexpandido.com
Serviço:
LAB CINEMA EXPANDIDO – RIO DE JANEIRO: FANTASMAS, MÁSCARAS E TERRITÓRIOS
Exposição de vídeoinstalações inéditas
Futuros – Arte e Tecnologia
De 10 de julho a 1º de setembro de 2024
Quarta a domingo, das 11h às 20h. Entrada franca.
Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo -Rio de Janeiro
Sobre o Futuros – Arte e Tecnologia
Inaugurado há 19 anos com a proposta de democratizar o acesso a experiências de arte, ciência e tecnologia, o centro cultural Futuros – Arte e Tecnologia convida o público a refletir sobre grandes temas deste século que norteiam a sua linha curatorial: meio ambiente, ancestralidade, infância, diversidade, educação e as inúmeras questões que envolvem a tecnologia e o seu impacto no desenvolvimento da humanidade. O espaço investe de forma recorrente na produção e inovação artística, com experimentação de novas linguagens, busca revelar novos talentos e valorizar e desenvolver o setor cultural do país, além de expandir a colaboração com a cena artística internacional, consolidando o Brasil na rota mundial da economia criativa.
Nomes como Andy Warhol, Nam June Paik, Jean-Luc Godard, Luiz Zerbini e Lenora de Barros são alguns dos expoentes que já ocuparam suas galerias ao longo dos últimos anos. Seu espaço já foi palco da cena cultural carioca e nacional com eventos como Festival do Rio, Panorama de Dança, Multiplicidade, Novas Frequências e Tempo_Festival, sendo os três últimos especialmente concebidos para a instituição.
Com programação diversa e voltada para toda a família, o centro cultural abriga galerias de arte, um teatro multiuso, um bistrô e o Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades. Com acervo de mais de 130 mil peças históricas sobre as comunicações no Brasil, promove ainda experiências imersivas e interativas que divertem e estimulam a reflexão sobre o impacto das tecnologias nas relações humanas. Em 2023, mais de 127 mil pessoas visitaram suas dependências.
Fundado pela Oi, sua principal mantenedora, e com gestão do Oi Futuro, em 2024 o Futuros – Arte e Tecnologia conta com patrocínio de BNY Mellon e EY, com apoio do Governo Federal através da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, o projeto Vem, Futuro! é realizado pela Zucca Produções no centro cultural com apoio da Serede, Universidade Veiga de Almeida, Eletromidia, SANDECH Engenharia, Windsor Hoteis e Secretaria Municipal de Cultura, oferecendo programação cultural própria e abrangendo a manutenção das galerias e do teatro.